A conta de luz das nossas casas aumentou quase quatro vezes entre 2000 e 2019 (Abrace). Atualmente, quase metade das famílias gastam metade ou mais do que ganham para pagar a conta de luz e de gás. Todos os dias, muitas têm que escolher entre pagar a conta de luz ou comer. Quatro em cada dez brasileiros diminuíram ou deixaram de comprar roupas, sapatos e eletrodomésticos porque precisaram usar o dinheiro para pagar a conta da luz. (Fonte: Ipec/iCS)
Todo mundo paga conta de luz: o supermercado, a padaria, a indústria e até o produtor no campo. Quanto mais cara a conta, mais caro ficam esses produtos. A conta de luz é como o ingrediente de um bolo: se o preço da farinha sobe, o preço do bolo também sobe. Para saber quanto a conta de luz deixa os produtos da cesta básica mais caros, pense em um bolo dividido em 4 partes: três pedaços representam tudo que é necessário para produzir a cesta básica e a conta da luz, sozinha, come praticamente um pedaço inteiro(23,1%) No caso do pão, do leite e da carne, a facada é ainda maior: ela representa quase uma fatia inteira (30%) de um bolo dividido em apenas 3 partes. (Fonte: Abrace).
Quando a conta de luz fica muito cara, ela deixa os produtos brasileiros caros – e o mundo para de comprar nossos produtos. O mesmo acontece aqui dentro: nós paramos de comprar as coisas, ou compramos menos. Mas ao contrário dos outros países, que podem procurar produtos baratos em outros lugares, nós, brasileiros, não temos como fugir: porque todos os preços são contaminados pela conta de luz. No final, todo mundo perde: quem não compra, e sofre com falta de comida, roupa e outros produtos, e quem não vende, e não movimenta a economia. O Brasil está assim já faz um tempo. E isso precisa mudar.
A conta de luz cara leva boa parte da sua renda e o que sobra compra menos coisas porque ela deixa tudo mais caro. Quando isso acontece, todo mundo compra menos. Por isso, as empresas vendem menos. E quando elas vendem menos, elas não contratam novos funcionários. Às vezes, precisam até demitir as pessoas. Você já tinha pensado que está difícil arrumar emprego também porque a conta de luz está cara? E sem emprego, como vamos pagar as contas e sustentar nossas famílias? Tem muita gente morando com a família ou até mesmo na rua por causa disso: tudo ficou caro e está difícil arrumar emprego. A conta da luz cara tem culpa nisso.
A variação das tarifas de energia conforme a renda é uma alternativa para reduzir os gastos dos brasileiros mais pobres com a conta de luz e, ao mesmo tempo, estimular um consumo mais consciente entre os consumidores das classes média e alta. Essa diferenciação poderia ser feita por meio da isenção das tarifas de uso das redes de distribuição e transmissão dos consumidores de baixa renda.
A conta de luz dos brasileiros podia estar mais barata #sqn :( Sabe por que? Simples: existem várias formas de se produzir a energia que acende a luz (e a TV, a máquina de lavar etc.) em nossas casas. Algumas são mais baratas e sustentáveis: usam o vento (que produz energia eólica) ou o sol (energia solar). Outras são bem caras: é o caso das usinas que funcionam com diesel ou gás, que têm o preço nas alturas! Tem até usinas que funcionam a carvão! E haja carvão: precisa muito carvão para gerar energia! Além de caras, elas poluem o ar e ajudam a turbinar o aquecimento global.
Mas se elas são tão ruins, por que alguém investiria nelas? Para responder essa pergunta, precisamos lembrar que já faltou energia no Brasil. Muita gente ainda lembra do apagão de 2001, quando o governo pediu para todo mundo economizar. Em 2021, quase aconteceu o mesmo: naquele ano, o Brasil enfrentou a pior seca dos últimos 90 anos. Só que a maior parte da energia que nós consumimos vem de usinas hidrelétricas, ou seja, que usam água. Sem chuva, elas ficaram sem água para gerar energia. O governo saiu correndo atrás de uma solução e resolveu apostar nas usinas que usam gás. Parecia uma boa ideia, porque o carvão e o gás não dependem do clima. E com a mudança do clima, está cada vez mais difícil saber se vai chover ou não. Mas é como diz aquele ditado: de boa intenção o inferno está cheio! Queimar carvão e gás aumenta a mudança do clima. De quebra, aumenta também a conta da luz.
Como nada é tão ruim que não possa piorar, uma série de medidas do governo adotadas para o setor também contribuíram para aumentar a participação do carvão e do gás na geração de energia elétrica no Brasil.
É um conjunto de máquinas que gera energia elétrica a partir da queima de combustíveis fósseis, como carvão mineral, gás natural e derivados de petróleo. Funciona assim: queima-se o carvão, o gás ou algum derivado de petróleo para fazer a água ferver, gerando vapor. Esse vapor, em grande quantidade, aciona turbinas que movimentam geradores de eletricidade. Imagina só a quantidade de água que precisa ser fervida para isso funcionar! É uma tecnologia que foi inventada no século 18 e que já deveria estar aposentada.
Quando queimamos carvão na churrasqueira, vemos que sai fumaça. Agora imagine toneladas e toneladas de carvão ou de gás. A queima desses combustíveis fósseis polui a região onde a usina é instalada, prejudicando a saúde das pessoas. Mas não é só poluição: ela lança gás carbônico no ar, agravando ainda mais a crise climática global.
As termelétricas fósseis precisam adquirir combustíveis fósseis para queimar. O gás natural e o petróleo, os combustíveis mais usados, são comercializados em dólares no mercado internacional. Assim, seus preços oscilam em função de guerras e da cotação do dólar, entre outros fatores. Isto não acontece com o Sol, os ventos e as águas, que são movidos por forças da natureza e que estão cada vez mais baratos por conta do desenvolvimento dos mercados e da tecnologia.
A decisão de apostar em carvão e gás para gerar energia elétrica não beneficia ninguém a não ser alguns poucos interesses políticos e particulares. Isso fica muito evidente quando olhamos as iniciativas do governo federal e do Congresso, onde muitas emendas sem qualquer relação com o objetivo de garantir que não falte luz estão sendo adotadas como normas para o setor elétrico.
Já estamos vivendo os efeitos da mudança climática. Ignorar isso nos coloca em risco de mais secas, que elevam o preço dos alimentos, e de chuvas torrenciais, que matam centenas de pessoas em enxurradas e deslizamentos. Temos sol e vento em abundância e podemos nos desenvolver, gerando emprego e renda, a partir da oferta de energia limpa e barata.
Quem está atrapalhando o caminho de um desenvolvimento limpo e sustentável são pequenos grupos e poucos indivíduos que exercem um forte lobby para viabilizar a indústria do gás natural no país. O Congresso e o aparato do Estado devem servir para garantir que a democracia e que os direitos de todos sejam respeitados, inclusive o direito tão fundamental de acesso à energia.
Não queremos energia cara. Não queremos energia suja.
Queremos energia limpa e acessível.